sábado, 14 de junho de 2008

A felicidade não é contagiosa

Eu tentei várias maneiras de iniciar este texto hoje. Eu escolhi esta:

Hoje eu consegui uma gripe. Eu a peguei de alguém. Então, alguém está sob o risco de pegar de mim. E por aí vai. À semelhança de uma cadeia, como uma sucessão de acontecimentos, neste caso, não tão agradável evento.
"É contagiante". Isso é o que nossa mãe nos diz quando somos mais jovens. "Não chegue perto do seu irmão/irmã, ou você vai contaminar também."
E, depois, de ficarmos longe, separados por um par de dias, talvez toda uma semana; mesmo assim, lá vai, poucos dias depois, nós estamos com a gripe, não importa o quão longe nós estivemos da pessoa infectada. Trata-se de propagação no ar, não há como escapar da mesma.
É engraçado como a felicidade não é infecciosa. Apenas as coisas ruins são contagiosas, não importa o que nós façamos. Doenças de todos os tipos, infelicidade, pragas. Se um campo de flores está em flor, o outro lado da várzea ainda sim fica seco. Não é o que dizem? Que a grama é sempre mais verde do outro lado? E a beleza... ela não é contagiosa, a tranqüilidade não é infecciosa, a sorte, o amor, a doença da preservação; mesmo que seja para a própria preservação.
Você não conhece alguém que apanhou a doença da alegria, não há uma notícia sobre o que obteve o vírus da felicidade. Mas há sempre uma manchete sobre a epidemia bipolar, ou a onda de ódio que explode no Oriente Médio, ou a praga endêmica de doenças tropicais que propaga sua calamidade por algum país do 3º mundo.
A pandemia da humanidade, e o seu vírus mortal do progresso, da destruição, da passividade, o verme que é transmitido de mão em mão.
Pense nisso! Por que não existe um vírus da alegria, um que você obtenha despretensiosamente, por andar nas ruas, de alguém que é feliz até mesmo mais do que você está prestes a tornar-se devido a fresca "doença" que você irá contrair? Porque tudo que é contagioso é uma coisa ruim? Por que o seu organismo é infectado por um vírus que leva milhares a adoecer, e não há um único microrganismo que pode transmitir um alívio, uma beleza, até mesmo uma força temporária ou virtude? Existe o conceito "Vicioso", mas por que não pode existir o termo "Virtuoso" no dicionário das doenças transmissíveis?
Você pode dizer que às vezes você pode obter a febre do trabalho ou da febre da paixão, da felicidade, mas isso tudo ocorre em sua mente só, isso não é físico, isso não é uma realidade incontornável, que é transmitida em um único momento quando se aperta as mãos.
Eu cheguei em casa hoje, e eu espirrei um par de vezes, e então eu levantei minha cabeça para o céu, onde costumava haver uma grande árvore frondosa. Havia apenas o céu nebuloso, e tal um muro de branco-céu cinzento, como se fosse o fim do mundo, a última linha do horizonte que existisse na minha frente. Havia som de serras trabalhando o dia inteiro naquele dia, quando a árvore caiu, pelas mãos dos homens. Foi há uma semana atrás. Então, hoje, houve o som das moto-serras de novo, mas estavam só terminando de picar os grossos galhos no chão do terreno. Não havia árvores a serem avistadas em cerca de uma milha. Todas elas foram cortadas. E então eu abaixei minha cabeça novamente e percebi a graça de tudo isso, quando o som das serras não podem incomodar mais ou ferir mais por dentro: quando não há nenhuma árvore a ser cortada não mais. Engraçado, essa praga o homem conseguiu dizimar: a infestação das enormes árvores. Elas estavam realmente prontas para ameaçar a sobrevivência da humanidade. Você pode imaginar um bug do ar puro contaminando todo mundo em volta? Poderia suportar essa “doença” da beleza em seus olhos? Direto lá na frente de seus olhos?! Quanto eles iriam arder só por olhar a esses ramos verdes e as dezenas de pássaros aninhando-se à noite...
A felicidade não é contagiosa fisicamente, mas o que se fosse? Boa pergunta. Eu não posso ter uma idéia sobre isso. Estou apenas tentando me livrar de meu vírus para não contaminar outra pessoa no momento. Mas se eu tivesse o primeiro vírus da Comunitária Felicidade, eu seria muito feliz de espalhá-lo com prazer, isso é com certeza.

Só para um exemplo: Vicioso significa: Cruel, Repulsivo, brutal, feroz, desumano, violento e sádico. E Virtuoso significa: Bom, digno, moral, honrado, incorruptível, probo, correto, e honesto.

Portanto, fazendo o checkout: Que mundo é esse em que nós vivemos afinal? Se fosse um bom mundo, não só existiriam coisas boas transmissíveis, e não essas doenças ou pragas?
Pelo menos umzinho vírus transmissível do bem… seria útil ao final das contas, não seria?

sábado, 7 de junho de 2008

Olhos de criança



Todas essas linhas em minha face... Os anos passam, poderiam ser essas linhas as únicas mudanças, as únicas marcas que acontecem na vida?

Eu vi uma criança hoje, passando logo abaixo da minha rua, ela olhou para mim, detrás de tais olhos abertos, olhos que poderiam dizer sobre o azul do céu, a vida escondida debaixo das pequenas pedras, sobre a luz, sobre as ondas do ar, sobre o verde das árvores, sobre os carrosséis e os movimentos da água em um riacho, sobre todos os "comos" e " por quês ". Olhos curiosos e luminosos, entretanto ela estivesse em uma pressa devido sua mãe, que a levava pela mão; e eu não pude ver os olhos da mulher. Os olhos da mãe não me encararam, ela caminhou rapidamente, como tantas pessoas fazem ela fitava algum ponto desconhecido, como tantas pessoas fazem, talvez fitasse os próprios pensamentos; talvez a própria vida. Tantas linhas na face dela também, tantas histórias para contar; talvez não. Eu não pude ver.

Talvez aquela criança jovem se perdesse se a mãe dela não a estivesse segurando pela mão, ao longo da congestionada e movimentada rua, ao longo daquele caminho. Mas talvez uma outra mão a guiar a mãe também não fosse útil? Os olhos dela, não contemplando parte alguma, enquanto ela caminhava… Perdida? Boa pergunta... Quem estaria mais perdida? Sem uma mão a guiar, qual das duas estaria mais perdida em menos tempo?

A criança jovem olhava para todos os lugares, detrás de seus olhos luminosos. Ela nunca se perderia, contanto que ela tivesse aquela mão para lhe guiar. Mas aquela orientação não a preveniria de outra espécie de perda, talvez a mais terrível e eterna de todas: A perda daquele interesse pela vida; não pela própria e concreta vida, mas por aquele mundo ingênuo e bonito que vive nos olhos luminosos que aquela criança podia ver tão claramente e vívido ao redor dela. Ela não estava perdida naquele momento, mas talvez ela estivesse um dia. A mãe dela não soltou da mão ao longo daquele caminho inteiro, mas a face da pequena menina não tinha ainda linhas cujas histórias ainda seriam vividas. E através dessas linhas ela terá que caminhar sem qualquer mão a lhe guiar, e talvez ela haja de se perder algum dia; mas a mãe dela não pôde ver isso, e a criança jovem também não estava atenta a isso naquele momento. Assim, ainda havia aquela luz na visão daquela criança, que mostrou um quadro vívido do mundo visto através dos olhos de uma criança.