domingo, 8 de janeiro de 2012

Procuro por amigos que tive

Quando a alma não corresponde mais ao que era antes... Corrompeu-se? Ou era tudo ilusão?
Quando a virtude que oferecia se transforma em vício, a quem devemos culpar?
Ao tempo, que inexorável, varre as memórias do bem em nós? Não, pois que a alma é imutável.
Criaturas insones, insanas, é a carne que se consome no falso brilho do prazer, vende-se quando deveria se guardar a todo custo, pois chegará um dia que só poderemos deixar esse mundo se não houve preço em nós, se do princípio ao fim nossos passos não nos conduziram para longe demais de nós mesmos.
O que os olhos conhecem, peça que o destino tece, chamamos de amor, alento, e com o tempo... esquecimento.
Pessoas que se afastam, enquanto desejávamos perto, basta a farsa do destino e amadurece a face que jamais esquecemos.
E despertamos nós então, do sonho que construímos? Sonhamos aquilo tudo, inventamos sorrisos?
Pois são outros os de agora, diferentes; e nós, os mesmos. Não importando o tempo, somos os mesmos, e por mais que busquemos sinais por trás naqueles que regressaram, não reconhecemos nem ao menos um; nada repousa lá, no tumulto daquela mente, que antes se acreditava inteligente e apenas foi mais um levado pela corrente. Nesse mar de intempéries de águas frias e quentes, constante foi apenas a mudança das marés, porque o tempo levou um a um daqueles que me conheciam, trazendo casca vazia de quem chamei “amigo”.
Âncora alguma conseguiu firmar seus passos, e foi levado, sem nenhum cuidado para o lado de lá, onde nunca dantes navegado, apenas esperava aqueles que se deixaram levar.
Um canto de ilusão de qualquer sereia, um vento mais forte, e lá foram eles, zarparam todos, retornaram rotos, não reconheço nenhum.
Tinham as faces coradas, o brilho nos olhos claros, coragem; e já perderam tudo, suas palavras agora são despejadas à cada hora e, como maré, fazem naufragar qualquer história que não seja a que eles próprios quiseram escrever.
Mas não ousam ler o diário de seus infortúnios, pois só se entregaram ao infeliz desejo de buscar por ser feliz.
Não há maior engano que procurar pelo vazio. Deviam ter se preenchido antes de entregarem a qualquer preço o maior tesouro que tinham.
N’alguma ilha está enterrado, o baú de suas estórias, as palavras dantes tão bonitas, que soavam no imenso plano, hoje jazem caladas, pois não ousam recuperá-las, já que todas foram vendidas.
Procuro por amigos que tive, como se fossem eles esses tesouros perdidos, mas sem mapa algum que me guie, sei... Jamais os encontrarei de novo.



Anne Russel



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